amor sem dor não dá poesia.

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você vem pairando,
lá do recanto mais belo de mim,
despretensiosa e brincalhona, só como você sabe ser.
e, quando eu me dou conta,
já estou preso em sua armadilha.
seus abraços me prendem,
suas carícias me arranham,
seu olhar me tortura,
seus lábios me sufocam
e sua presença
me angustia.
ah, me deixa ir!
você deixa. por um breve suspiro.
logo depois volta. ainda mais cruel.
e me ataca com nossas melhores lembranças;
sinto o peso delas sobre o meu peito.
não consigo respirar.
socorro! socorro!
você dança ao meu redor.
seu perfume me envenena.
luto, suplico, grito!
sua beleza me leva ao chão.
socorro! socorro!
ninguém escuta.
acabo, por fim, sem forças
e sucumbo.
você desaparece.
funde-se com o ar.
e eu,
derrotado,
vejo minha vida escorrer pelo chão,
após sua injeção derradeira,

de saudade.

Ciúme

Quote

                Veneno que perfura as entranhas e instaura a desconfiança e a angústia. Embaça a vista e tortura lentamente os indivíduos em que penetra. A realidade não existe mais; o que existe é o que o terreno fértil da imaginação, regado a esse líquido ingrato, diz que existe. Todo o resto parece tornar-se irrelevante. As fantasias invadem o mundo dos fatos e alucinam; e fazem sofrer; e fazem chorar. As emoções afogam qualquer sinal de racionalidade ainda existente.  A raiva completa o cenário. Amor e ódio confundem-se; entrelaçam-se. A fronteira entre a lucidez e a loucura torna-se obscura. Nesse breu, alguns se perdem.

                  Eu
                 me  perdi. 

Resta-me dormir

Diz-se que quem escreve, escreve na ânsia de responder às perguntas que afligem a consciência. Aquelas que surgem nos momentos de mais profunda e íntima reflexão. E que trazem consigo, claro está, certa angústia, na medida em que afogam de interrogações e dúvidas um ser (o humano) que passa a vida buscando, pelo contrário, respostas e certezas.

Isto posto, resta-me dizer que tenho sido atingido por tal onda com relativa freqüência. Pode ser obra do tédio ou, para parafrasear Machado, da insônia, Musa de olhos abertos que me tira o sono. Não importa.  Importa, sim, que decidi enfrentar a maré e, para tal, escolhi as embarcações das palavras. Talvez assim, letra após letra, frase após frase, consiga desembrulhar o que dentro de mim se esconde e arrancar das entrelinhas as respostas que procuro. Talvez não, mas é tempo.

O que me trouxe à cabeça a pergunta que aqui tentarei responder foi um daqueles devaneios noturnos que parece se esconder ao longo de todo o dia e aparecer somente no terreno fértil do silêncio e do conforto da cama, quando estamos mais desprotegidos. A chuva, para alguns, tem o mesmo efeito. Mas, enfim, entre lembranças do dia que passara e das páginas pouco antes lidas, veio-me como que um zumbido sussurrar nos ouvidos: “quem é você?” Obviamente achei no mínimo cômico ouvir tal pergunta de minha própria consciência. Pelo menos até eu perceber que não conseguia achar a resposta. Aí então, nada de cômico restou nestas três palavras. Senti, por um breve momento, que estava a falar com um estranho. Confesso que tal conclusão me preocupou; e muito. Foi assim que surgiu a idéia do texto.

Gastei já muitas palavras para falar da pergunta. Nota-se facilmente que nada mais é do que uma tentativa de evitar buscar a resposta. Finalmente, aqui começo; que não naufrague no caminho.

“Quem é você?” proferiu o desgraçado zumbido. Quem sou eu? Quem sou eu? A primeira resposta que vem à mente é um sonoro “Não Sei.”. Começo, então, a assistir a cenas do meu cotidiano: conversas entre amigos, almoços em família, desabafos, confissões, abraços, beijos, discussões e até brigas. Penso que assim, após filtrar as diferenças e semelhanças entre tais eventos (e meus respectivos eus), consiga achar um que me defina melhor, e que englobe meus gostos, medos, aflições, valores, princípios, personalidade…

Não. Não me conheço tão bem assim para fazer tal comparação. Afinal, não sei ao certo se as palavras que declaro são totalmente minhas ou se são minhas e suas e nossas e deles. Repete-se o raciocínio para o que penso, escrevo e faço. Sinto, no fundo, que certas vezes, a imagem que os outros esperam de mim invade-me e domina-me a tal ponto que meu real eu não encontra outra saída senão o exílio.

Sob outra perspectiva, confesso ser na maior parte do tempo um livro fechado. São raros os momentos em que leio meus versos e minhas prosas a outro alguém. Para disfarçar, por mais que às vezes não queira, encubro-me com máscaras. Considero que meu erro não está em usá-las, já que todas as pessoas usamos, mas sim em deixá-las por muito tempo.  Ao assim fazê-lo, alimento as personagens, e não o ator.

Não me conheço. Irônico é, certamente, que quem mais deveria conhecer-me, desconhece por completo.  Por favor, quem puder (e quiser) apresente-me a mim. Caso encontre algo que sinta ser legítimo, diga-me. Ouvirei com o maior prazer. Não encerrará minha angústia, mas o primeiro passo estará dado. Começarei uma lista, prometo.

E, assim, o cantar dos pássaros dá as boas-vindas ao dia que se aproxima. As horas escorrem. Por fim, fecho os olhos e desisto.

Sem final poético ou grande reflexão termino este desabafo, que tanto me cansou. Resta-me dormir.

Adeus.

É pedir muito ?

Logo cedo deixaram o hotel e passaram a caminhar pela cidade, observando tudo pelo que passavam. O lugar era, como um todo, muito simples, mas tal simplicidade trazia consigo um enorme aconchego.

As casas eram, em sua maioria, de madeira, assim como as lojas e os restaurantes. As ruas, de paralelepípedo. Tudo cercado pela intensa vegetação da região, o que tornava o lugar ainda mais bucólico. Poucas pessoas circulavam pelas ruas naquela manhã. Ainda menor era o número de carros. Assim, o que predominava era o som da conversa que levavam ao longo do caminho e dos pássaros que os viam presentear com suas canções.

O céu estava com poucas nuvens e o vento tornava o calor que fazia menos intenso. Após a caminhada, pararam para almoçar. Em seguida, retomaram o passeio, passando agora a visitar as lojas de artesanato da região. Ela gostava muito de levar pequenos presentes para amigos e família, mas acima disso, estava procurando algo para guardar daquela viagem, que por si só já era especial: era a primeira que faziam juntos.

Passou rápido. Ao entardecer, decidiram aproveitar os resquícios do sol que insistiam em aparecer no horizonte indo à praia.   Tiraram os calçados e passaram a andar descalços pela areia, até sentirem o mar. Foram, então, caminhando, com a água tocando seus pés, em direção a uma rocha que existia nessa praia, um lugar onde poderiam parar para apreciar a paisagem.

O céu perdera seu azul da manhã, mas em troca, havia recebido o laranja e o vermelho.  O sol havia majestosamente tornado o céu sua obra de arte.  E lá continuavam os dois amantes. Perdidos no tempo, mas perfeitamente encontrados um no outro. Com as mãos dadas, brincavam à beira mar. Ela vez e outra ameaçava beijá-lo e saia correndo. Ele, sem pensar, sorria, e corria atrás. Quando a alcançava, lhe dava um forte abraço e a girava. Gostava de senti-la em seus braços. Respirava fundo nesses momentos para poder sentir seu perfume. Então, suspirava.

Andavam vagarosamente, aproveitando a brisa que lhes tocava o rosto. Quando, sem nenhuma explicação, ele olhava para ela e sorria, ela não entendia. Devolvia o gesto, mas não saberia dizer, com certeza, sua motivação. Ele, sim, conseguiria explicar muito bem. Aquilo, toda aquela cena, todo aquele ambiente já havia sido imaginado e repensado diversas vezes nos seus mais românticos devaneios. Contudo, ao olhar nos olhos daquela mulher em cuja cintura seu braço repousava ele confirmava: a realidade é muito melhor. O que sentia era aquela felicidade que dificilmente se encontra. Aquela que causa sorrisos espontâneos; lágrimas espontâneas.

Aproximavam-se cada vez mais da rocha. O céu ganhava as cores da noite gradativamente e a fraca brisa de outrora já era um vento mais acentuado. O vestido florido dela dançava. Assim como seu cabelo. Vendo que aquilo a incomodava ele parou e suavemente passou a mão nos fios que cobriam seus olhos e os carregou até atrás da orelha. Em vão, obviamente, pois o vento não colaborava. Mas, mesmo assim, era só mais uma oportunidade para acaricia-la.

Enfim, chegaram à rocha. Ele subiu primeiro. Ela, logo depois. Mesmo não sendo tão alta, a pedra proporcionava o lugar perfeito para apreciar o mar. As ondas chegavam subitamente e com esse movimento repetitivo, criavam a trilha sonora.

Ela tinha um olhar estático naquele instante. Parecia não acreditar no que via, de tão belo. Ele também não acreditava. Mas em seus olhos não estava a paisagem, estava a mulher que amava. Ela estava ali, ao seu lado, e não existia nenhum outro lugar onde desejasse estar.

Então, os dois deitaram abraçados e voltaram seus olhares para o céu, que recebia as primeiras estrelas. Com frio, por ter se molhado no mar, ela se aproximou dele, encostou a cabeça em seu ombro e colocou o braço sobre seu peito.  Por um instante, fechou os olhos. Foi tão eterno quanto efêmero, mas ele sabia que aquilo era o que ele queria.  Só aquilo. Nada mais.

Finalmente, quando as cores da noite já tomavam a praia, voltaram para o hotel do mesmo modo que haviam chegado. Mãos dadas e passos lentos, mas agora eram acompanhados também por um sentimento de tristeza, por ver aquele lindo dia encarando suas últimas horas.

E acabou. Simples assim. Descomplicado assim.

    É pedir muito?

Desbanalize já !

Subitamente, me vem essa vontade incondicional de escrever. Sobre o que? Não saberia dizer. Como? Outra pergunta sem resposta. Simplesmente escrever. Deve ser a trilha sonora vindo dos fones de ouvido, mas é improvável, já que esta é continuamente interrompida e atravessada por vozes a conversar. Talvez sejam essas vozes. Isso, definitivamente são as vozes. Vozes aleatórias; vidas aleatórias.

Vidas que se cruzam diariamente sem se conhecer. Vidas que, cada uma do seu modo, trasportam experiências, memórias, sentimentos. Trilham caminhos diversos por entre as ruas estreitas das cidades carregando um semblante sério e envolto em uma nuvem imensa de dúvidas e questionamentos.

Parece, atualmente, que muitos aspectos da vida estão banalizados e sem significado. Na multidão, cada pessoa, com suas próprias singularidades, torna-se invisível, insignificante. Hoje é assim: tudo massificado, grande, rápido.

Tão rápido como a paisagem que passa pela janela de um trem: você consegue enxergar, porém nada absorve. Após rápidos cinco minutos já não pensa em tal imagem , mas sim na próxima que alcança seus olhos.

Na construção desse dinamismo perdemos muito. Perdemos as fogueiras do meio do ano, as rodas de amigos na rua, as reuniões familiares, ou seja, perdemos as essências. Antigamente, ser humano, enfatize o leitor o último verbo, era mais valioso. Envolvia a criação de conexões e laços com as pessoas e o ambiente ao nosso redor.

Hoje, não é mais assim. Deveria ser. Uma pena. É triste reconhecer que as novas gerações não sentirão as pequenas emoções das quais as gerações passadas relembram em reencontros e conversas nas quais cultivam a boa e saldável nostalgia.

Eu simplesmente espero, de verdade, que no futuro, essa palavra ainda exista. E que, especialmente, essa vozes que me cercam não sejam sufocadas totalmente por essa tecnologia exilante à qual estamos submetidos.

Às vezes penso que fazemos tantos log-ins virtuais que esquecemos de “loggar” em nossa própria vida, nossa própria realidade, nossos próprios sentimentos.

Vamos parar um pouco. Simplesmente deixar o tempo passar sem querer ultrapassá-lo. Vamos ver o sol se por; as ondas do mar; o céu estrelado; a brisa. Vamos fugir dessa loucura.

Vamos “desbanalizar” a vida !

Afrodite

Numa praça qualquer…

Crianças brincam despreocupadas. O sol banha as árvores, que agradecem. Pessoas circulam de um lado para o outro. A engrenagem do mundo funciona perfeitamente. Atravessando o céu, nuvens que pairam lentamente, como sonhos alheios. Sonhores e senhoras conversam avidamente, revivendo emoções e experiências passadas. Pássaros descem vez e outra para aproveitar o descuido dos passantes com seus lanches ou a bondade de outros que os presenteiam espontaneamente. O vento abraça e carrega consigo as folhas caídas. O chafariz central joga águas para cima em uma sincronizada e serena dança. Carros passam ao redor, quebrando a tranquilidade. E, quando todos menos esperavam; quando todos estavam com as guardas baixas…

Ela apareceu. Cabelos esvoaçantes; vestido florido; Deusa impiedosa. As crianças pararam de brincar.  A cada passo que dava, a terra tremia e  fendas se abriam. As árvores pareciam se curvar em reverência.  O sol ficou maior e seu brilho quase insuportável. Aproximou-se, definitivamente, para vê-la. Percebeu, relutante e amedrontado, que seu reinado estava ameaçado: nem as estrelas que via diariamente em suas viagens eram mais belas e iluminadas.

Rosas, tulipas, anemonas e antúrios brotavam por onde ela passava, como uma forma de homenageá-la, acompanhando seu caminho.  E a terra tremia. Anjos caiam do céu desesperadamente. Não queriam perder esse espetáculo. Um. Dois. Três. Não paravam de cair.  Tudo se modificara. E ela continuava andando.

Os idosos esqueceram do passado por um momento e pela primeira vez davam valor a algo do presente. Lacrimejavam encantados. Batidas aconteciam sucessivamente nas ruas. O chafariz, como se houvesse recebido um incentivo extra, jogava suas águas com uma força nunca antes vista, formando um redemoinho no ar.  No céu, as nuvens se entrelaçavam e teciam imagens que refletiam-se sobre os prédios,  o concreto e as pessoas. Imagens coloridas de montanhas, vales, campos e colinas. Enquanto isso, ela passava. E a terra tremia. Aquele tremor que entra e balança as estruturas; que faz-se sentir por muito tempo.

Ela, enfim, vira a esquina e se afasta. Tudo começa, devagar, a voltar ao normal. Não há mais confusão. As rachaduras fecham-se. As árvores endireitam-se. Cessam-se as batidas. Os anjos, feridos, tentam alçar voo novamente. As crianças brincam. As pessoas retomam o equilíbrio e voltam a andar. O chafariz dança. As flores morrem.

Foi então que eu abri os olhos e nossas bocas separaram-se.

Amizade

Queria, singelamente, fazer uma homenagem a meus amigos. Os verdadeiros amigos. Eu até poderia escrever um texto próprio para falar de amizade, mas encontrei um de Vinicius de Moraes que descreve-a  perfeitamente.  Sinto um imenso privilégio em ter acesso à sua poesia; sua arte. Todos somos. Poucas pessoas conseguem expor sentimentos em palavras tão bem.
Aqui está o texto:

“Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo”

Muito Obrigado Amigos e Amigas,
sem vocês nada seria ! 
;D

 

Amor e Criança

Como falar do amor? Existe alguma maneira certa? Alguma maneira de transcrever em palavras o turbilhão de emoções, a leveza, a alegria que simbolizam o amor?

Talvez sim, provavelmente não.

Nessa tentativa, comparemos o amor a uma criança: um, sentimento; o outro, indivíduo; um, abstrato; o outro concreto.
A criança, quando chega, entra sem avisar e já cria aquela agitação. Bagunça a casa inteira num piscar de olhos. Deixa suas marcas por todos os lugares. Faz-se notar. Faz-se necessária. A desordem que causa faz falta quando deixa de existir. Às vezes, se esconde com receio de ser repreendida. Porém, dificilmente desaparece totalmente. Ela pode até ficar quieta por um tempo, mas, eventualmente, volta com toda sua energia.
Esse seu modo de ser alegre, agitado e contagiante faz com que sua presença traga uma serenidade e uma calma parelalas à euforia e à ansiedade que causa.É indescritível. Cria um ambiente de ilusões e sonhos, fertilizado pela imaginação e pela fantasia, no qual tudo é possível. Um lugar sobre o qual a realidade tem pouca ou nenhuma influência. Puro e inocente. Simplesmente lindo.
E se, agora, trocássemos a palavra “criança” pela palavra “amor” ? Muitas semelhanças seriam encontradas?

Talvez não, provavelmente sim.

Ela

Nos conhecemos por acaso. Em meio à multidão nos encontramos. Os cabelos dourados caiam perfeitamente sobre seu rosto.Pele branca. Traços perfeitos. Delicadeza intacta. Sua beleza estonteante assustava, porém foi seu olhar que mais me chamou a atenção. Aquele azul cruel, evolvente, paralisador, que não compartilha com o oceano somente a cor, mas também a profundidade. Se você não tomar cuidado, ele te afoga facilmente. E eu nunca fui de usar colete salva-vidas. Fui imprudente. Seus encantos me arrastaram e eu simplesmente mergulhei. Hoje não consigo mais subir.
Hoje me encontro hipnotizado pelas maravilhas que lá encontrei. Sei que é muito perigoso e que a cada minuto que passa estou me arriscando mais, porém não resisto. Deixo, de forma submissa, a correnteza me levar.
Se humanamente é impossível voar, que esse mar seja meu céu. Ele me proporciona um sentimento de liberdade, leveza e tranquilidade que fogem ao meu controle.
Liberdade.
Leveza.
Tranquilidade.
Preciso respirar. Quero ir à superfície, mas não consigo. Sinto meu ar se esgotando. Toma-me uma angústia sufocante que estranhamente conforta por existir. Como se estivesse enfeitiçado, perco os sentidos. É uma sensação difícil de expor em palavras.
Toda essa complexidade concentrada em um simples olhar.
Quando explode
te atinge,
te abraça,
te absorve,
te domina.
O único problema é que nesse oceano minhas palavras sucumbem devido à pressão. O “eu te amo” não se propaga, independente da força com que grite.E o meu ar está acabando. Quero ser ouvido; não quero ser ouvido. O meu maior medo não é de me perder nesses labirintos azuis e sim de não ouvir essas três palavras ecoarem de volta caso escapem de algum modo e alcancem quem eu desejo: ela…

Disso eu tenho medo..e de nada mais.

 

 

A Pessoa Errada

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O mundo não é certo. Se assim o fosse não existiriam pessoas passando fome nem vivendo ao relento como animais; guerras aconteceriam somente em filmes e livros; pobreza e violência não seriam palavras comuns no vocabulário utilizado em conversas do cotidiano, e todas as histórias de amor acabariam com: “e viveram felizes para sempre…”.
O problema é que precedendo as afirmações anteriores existe a palavra “se”. Ela, por menor que seja, tem um efeito enorme e muda completamente a situação. Quando é preciso utilizá-la o time não foi campeão, a batida de carro não pode ser evitada, o bolo não saiu do jeito que a confeiteira desejava, enfim. O mundo não é certo. É somente isso, e tudo isso, que essa combinação de duas letras nos diz acima.
Certo dia, em minha rotineira jornada virtual,  encontro acidentalmente um texto chamado “A Pessoa Errada” de Luis Fernando Veríssimo. Comecei sua leitura despretensioso. Porém, cada frase lida me trazia um maior sentimento de entusiasmo, inconformismo e raiva ao mesmo tempo. Entusiasmo pelo fato de o autor mostrar-me uma resposta que eu há muito procurava sem sucesso (isso porque eu nunca consegui formular devidamente a pergunta). Inconformismo e raiva por dois motivos: primeiro por ele (autor) fazer parecer algo simples e fácil de se enxergar e segundo por falar tantas verdades e pensamentos que fazem total sentido para mim, a ponto de eu considerar a possibilidade de processar o caro Luis Fernando por plágio.
Eis aqui um trecho do referido texto:

“Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa,
não existe uma pessoa certa pra gente
Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é,
na verdade, a pessoa errada
Porque a pessoa certa faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas
Aí é a hora de procurar a pessoa errada
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é prá na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa
Essa pessoa vai te fazer chorar
Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar seu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão”

Simplesmente não há mais o que dizer.  O texto diz tudo: O MUNDO NÃO É CERTO! Como pode a pessoa errada ser na verdade a pessoa certa?
Como, pelo amor de Deus?
Como?
Como?…
me pergunto todo dia.  E mesmo depois de muito esforço não encontro meios de explicar. Talvez se, SE o mundo fosse certo, não precisaria me fazer tal questionamento..(e aqui aparece mais uma vez essa cruel monossílaba).
Não o é, infelizmente.
E mesmo concordando com os argumentos utilizados no texto, para mim, o certo, algum dia, será o certo, o ideal. Não mudarei.

Sou a pessoa certa.
Sem mais.